quinta-feira, novembro 29, 2007

OS GUERRILHEIROS DO CONTESTADO

Na região contestada, entre os estados do Paraná e Santa Catarina, ocorreu, entre 1912 e 1916, uma violenta guerra camponesa. O local, que foi teatro dessa luta, compreendia uma área de 48.000 km² rica em ervais nativos, a qual era disputada por paranaenses e catarinenses. A guerra camponesa do Contestado foi, na verdade, uma reação dos sertanejos contra uma ordem social injusta. O governo federal, bem como os do Paraná e de Santa Catarina estavam pouco preocupados com a sorte dos sertanejos. Uma extensa área de terras foram concedidas ao grupo de Percival Farquhar, que construía a estrada de ferro São Paulo – Rio Grande.
Com o apoio do governo e dos “coronéis”, as companhias estrangeiras passaram a expulsar os pobres caboclos das terras em que viviam há muitos anos. Nas terras sulinas, era comum a figura dos monges, indivíduos místicos, que faziam as vezes de médicos, padres e conselheiros. Aquela multidão de explorados chegou a dominar uma área de 28.000 km² e uma população de vinte a trinta mil habitantes, espalhados por vários redutos. Nos redutos, predominava a divisão por igual dos alimentos e de outros meios de subsistência. É evidente que uma sociedade desse estilo preocupava os poderosos da época.
O Paraná desmembrou-se da província de São Paulo em 1853, procurando, em seguida, firmar suas posses sobre as terras de Santa Catarina. Por três vezes o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa aos catarinenses. Finalmente em 1916, a questão foi solucionada. Ao Paraná couberam 20.000 km² e a Santa Catarina, 28.000 km². O primeiro monge teria sido João Maria D’ Agostinho, imigrante italiano, pregava o bem e fizera muitos milagres. Morreu não se sabe quando e nem como. Após a sua morte, os sertanejos passaram a chamá-lo de “São João Maria”. O nome do segundo monge era Atanás Mercaf, era de origem síria, usava o nome de João Maria de Jesus. Os padres cobravam para rezar missas, fazer batizados etc., enquanto o “monge” fazia suas orações, suas curas e dava seus conselhos gratuitamente.
No ano de 1911, os sertanejos passaram a ser expulsos de suas terras. A volta do monge era necessária, uma vez que só os milagres dele poderiam acabar com os terríveis sofrimentos do caboclo da região. Miguel Lucena Boaventura, dizia ser José Maria D’ Agostin, “irmão” de “São João Maria”. A fama de José Maria fazia com que o número de seus seguidores aumentasse bastante. Isso causou preocupações ao “coronel” Francisco de Albuquerque. Alegando doença de um membro de sua família, o “coronel” mandou chamar o monge. Sabendo que a política catarinense estava em seu encalço – o monge resolveu se retirar para Irani em território paranaense. Num clima de grande fervor “patriótico”, a província Curitiba se preparava para expulsar os “catarinenses”. As tropas paranaenses chegaram a União da Vitória no dia 14 de outubro de 1912. No dia 15, partiram para os campos do Irani. Na madrugada do dia 22 de outubro de 1912, iniciou o ataque e as tropas paranaenses tiveram onze mortos e treze feridos. Já os sertanejos teriam perdido seis combatentes. Dessa maneira ocorreu na manhã do dia 22 de outubro de 1912, a batalha dos campos do Irani, onde ambos os comandantes morreram.
Para O Primeiro Ataque o governo catarinense tinha um plano que consistia no seguinte: Os duzentos e pouco homens seriam divididos em três colunas. No dia 8 de fevereiro de 1914, ocorreu O Segundo Ataque. Os canhões lançam sobre o reduto cento e setenta e cinco tiros, no reduto, casebres iam pelos ares, incêndios se propagavam, matando mulheres e crianças. Os sertanejos sabendo que os soldados estavam há meses no sertão sem ver um rabo-de-saia, se vestiam de mulheres e os soldados acreditavam e saiam em disparada, as tais “mulheres” esperavam os imprudentes e caiam sobre eles com afiados facões.
O general Fernando Setembrino de Carvalho era um militar experimentado e de muito prestigio, para vencer a impetuosidade dos rebeldes e semear a discórdia entre eles, Setembrino emitiu um manifesto bastante conciliador. Em janeiro de 1915, cerca de três mil sertanejos renderam-se às forças legalistas. Muitos prisioneiros eram assassinados friamente: eram degolados e os cadáveres ficavam insepultos, os porcos e os corvos tinham fome.
Quando os sertanejos tentaram ocupar a colônia, Rio das Antas, o comandante Chiquinho Alonso morreu, e Adeodato Manoel Ramos tornou-se o comandante geral. Cercados, os rebeldes acabaram sendo vencidos. Nem todos os sertanejos foram presos e mortos. Em dezembro de 1915, Adeodato acompanhado de doze sertanejos, conseguiu fugir. Após atravessar o rio Tamanduá, Adeodato subiu num barranco e gritou: “Perdemos a guerra, a guerra está perdida. Ele foi preso e condenado a trinta anos de prisão. Ao tentar fugir em 1923, Adeodato recebeu dois tiros, vindo a falecer.A Guerra do Contestado foi uma insurreição camponesa, gerada pelas injustiças sociais reinantes na época. Explorados pelos estrangeiros, esquecidos pelas autoridades, os sertanejos, rebelaram-se contra essa ordem econômica, social e política. Procuraram elaborar uma visão de mundo diferente daquela da classe dominante. Na fase inicial, as forças repressoras, não estavam preparadas para combater os rebeldes, daí os sucessivos fracassos. Somente com a interferência do Governo Federal é que a situação mudou. A Guerra do Contestado deixa-nos uma grande lição: que os camponeses tiveram uma heróica resistência, e o povo brasileiro, quando luta por uma causa em que acredita é um guerreiro.

MOCELLIN, Renato. Os Guerrilheiros do Contestado. São Paulo: Editora do Brasil, 1989.

Jessica Taís Bresan 3210

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